Espero uma amiga à porta da universidade. Espero trabalhando, arrumando fotos e respondendo a emails atrasados.
Dou-me conta de um movimento de caminhantes sem pressas, sou estranhamente despertada por ele, um despertar diferente daquele a que estou habituada. Um despertar inverso ao que reconheço em mim. Não assusta, não abana, não me faz reagir muscularmente... E no entanto desperta-me, retira-me do que estou a fazer... Permite-me ser tocada por outro ritmo tão diferente do compasso em que me acerto e me reconheço nos dias.
Toda a gente se move lentamente debaixo deste sol. Mesmo que a aula já tenha começado não há urgência no andar, não há sofreguidão nos passos nem velocidade nos gestos. Estive bastante tempo e não vi uma única pessoa a correr.
Ou vêm todos demasiado cedo ou isto do tempo não lhes toca como a mim.
Olho para mim. Olho para o que corro diariamente e reconheço-me acelerada e forte.
Dou-me conta que nem o meu esperar é esperar... Encontro sempre o que fazer, o que ler, o que escrever... O que pensar ;-)
Olho para mim e desejo este desaceleramento interior, explorar o movimento slow que tanto admiro. Acolher o ser caracol que há em mim e deixar-me deslizar na vida. Sem pressa, como estes que vejo seguirem para as aulas já começadas.
Ao mesmo tempo que observo o ritmo de quem entra, toca o telefone. Atendo. E combino com uma amiga ir correr no estádio depois do trabalho.
Contradições, paradoxos e incoerências que me queimam os sentidos e me iluminam a alma.
Um armazém ao serviço da curiosidade e da alegria... da curiosidade por tudo, da alegria por encontrar o que é meu ou aquilo que me espanta os sentidos. Um armazém da vida ou da parte dela que faz sentido partilhar.
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
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