quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Destroços...


Em Bissau, onde o Geba encontra o mar, está um barco encalhado em frente a um dos poucos espaços onde se pode tomar uma cerveja fresca a ver o estuário. Uma realidade liquida emoldurada por mangais e por uma cidade que parou num tempo que não é cronológico. 
Há uma nostalgia nos barcos encalhados e nas cidades deste tipo que nos abrem portas para desconhecidas dimensões. Foco-me nos barcos e neste em especial, deixado apodrecer num porto sem cais,fixo, ancorado... preso à memória de viagens que não mais se poderão fazer. À volta dele o movimento continua. Agora as canoas que ali atracam e por ali navegam têm de se desviar. As pequenas canoas de madeira, na maré cheia circundam o barco para chegarem a terra firme. Tanto se apoiam nele para melhor posicionarem a proa como há alturas em que batem nele, e a pancada seca ecoa num casco metálico e oco como frágeis baquetas num balafom, se alguma vez pudesse ser feito de metal.
As correntes e o movimento das gentes continuam inalterados. As pessoas partem e chegam a este porto com as mesmas certezas e com as inseguranças de sempre. As ancoras são lançadas e levantadas com a cadencia e a sabedoria dos mestres. Acredito que com o tempo a carcaça ferrugenta deixe até de ser vista pela maior parte dos marinheiros os dos passageiros.
Será uma ruína a ser comida pelo próprio tempo, pela ferrugem, pelas ondas ou pelo vento, e enquanto isso, continua a apoiar e atrapalhar os navegantes, caminhando estaticamente para invisibilidade e para a completa integração na paisagem tal como acontece com os destroços que nos habitam a alma.


PS
A propósito da partilha com a minha querida Elisabete. Obrigada pela generosidade e acolhimento.

25 de abril! Sempre!

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