terça-feira, 19 de julho de 2022

Escola de ouvido



Hoje tive uma ideia que me fez sorrir... Tenho ideias a conversar com as pessoas. Por isso talvez não sejam ideias só minhas são despertadas pelo coletivo que se encontra, são despertadas pela vontade de encontrar soluções ou pelo gosto de ver o mundo de outros pontos de vista.

Hoje inventei uma "escola de ouvido". Uma escola em que os alunos sentados da forma como entenderem aprendem de olhos fechados o som dos passáros que anunciam o amanhecer, aprendem a distinguir um rouxinal de uma rola, aprendem de ouvido a cor das aves e o movimento dos animais selvagens.

Aprendem a distinguir um didjirudú de uma flauta, um cravo de um piano e com isto aprendem o tempo de demorou a chegar de um ponto a outro.

Aprender os ritmos do djambé em contraponto com os timbalos e descobrem que se podem afinar instrumentos de percussão com sol ou com chaves de metal.

Aprendem que nem sempre existiu saxofone e com ele descobrem caves escuras onde se fazia música. 

Aprendem de ouvido a distinguir Viena de São Francisco, os aborisnes australianos dos indios da amazónia. Pelo som descobrem tempos e espaços, rituais e vulcões. Sobem às montanhas dos Andes ou descem ao Mar Morto ao mesmo ritmo do ar rarefeito ou da densidade do sal. 

Distinguem a lingua dos clics, o mandarim ou o russo, com a mesma facilidade que distinguem um tecido de algodão, seda ou lã. Ouvem falar de epopeis e nelas encontram Cavalos de Pau cujo interior, em silêncio, permitiu ganhar a guerra. 

Aprendem a distinguir poesia de prosa pelo ritmo das palavras e vão saber que nem tudo o que rima é poético e que também há narrativas escritas em verso.

Aprendem de ouvido o som dos passos com chinelos, salto alto, ou o simples ranger dos pés na areia molhada.

Não pensem os mais distraídos que não há testes nesta escola, porque os há. Os estudantes distinguem-se uns dos outros pelos sons e cada um deles partilha o som que mais gosta naquele momento e os outros adivinham de onde vem, e assim distinguem música barroca de música electrónica, jazz de blues, Bowie de Bjork.

Vai ser giro quando um deles decobrir um som novo que não está catalogado na memória e aí serão eles em conjunto a fazerem a história. Desses sons havemos de ouvir falar no futuro e espantar-nos-emos com a capacidade que os alunos têm de criar em conjunto, só porque aprenderam a ouvir.

Uns tornar-se-ão observadores de pássaros, uns músicos, outros afinadores de pianos, uns serão locutores de rádio, outros professores, uns serão pais de familia e outros serão viajantes solitários, não consigo imaginar o quanto farão tantos deles, sei apenas que a grande maioria será muito feliz.

25 de abril! Sempre!

Uma amiga que vai descer a avenida da Liberdade daqui a pouco e não é de missas, convidou-me para uma missa. Encontrando um padre amigo numa...