sábado, 14 de janeiro de 2017

20 anos...

20 anos de estágio é algo muito bom e não é só no que toca a whisky ou vinho Porto.
Fazer 40 anos significa que vivi coisas conscientes e assumidas há mais de vinte, tenho amigos a sério (e dos bons) há mais de vinte anos, carta há mais de vinte anos… Fiz um curso sem computador, ouvia música no gira-discos, discava números, via patinagem artística na televisão, lembro-me de estreias que agora são clássicos, e participei na impressionante mobilização por Timor ou nas "manifs" contra as propinas.
É bom pertencer a uma tal geração X que acredita que o melhor está para vir, porque se compromete e envolve nisso.
Estes anos trouxeram muita coisa boa, muita coisa linda, muita coisa feliz e muita outra coisa! Trouxeram tudo o que levo na bagagem (o Pessoa diz isto mais bonitinho, é só procurar). Olho para trás e sou profundamente grata ao mistério da vida e aos milagres que me aconteceram, ao amor, aos perdões que consegui conquistar à consciência (e aos outros), e ao desprendimento que vou treinando (ou desejando) em cada passo.
O que mais me espanta são os milagres em forma de gente que foram e vieram neste mar de tempo. Umas de passagem, umas para sempre, umas que regressam com as marés, outras que eram para sempre e se afundaram, umas que não eram nada e passaram a ser, e já amo aquelas que ainda vão ser trazidas pelo vento.
Nestes vinte anos de tempo, nesta maré de vida que segue as luas e as estações, foram as pessoas os verdadeiros milagres, a partícula de Deus. Os verdadeiros portos de abrigo, embarcações seguras e remos fortes que possibilitaram dar novos mundos ao meu mundo, chegar a sítios nunca dantes visitados. Foi com gente real que tracei o mapa que me conheço… Gente feliz e gente triste, gente boa e gente à procura. Gente linda. Gente que me desinstalou, que amei e perdoei, gente que é de todo insubstituível na minha geografia.
Muitos não mais ouvirão falar de mim, uns terão más recordações, alguns quererão ainda entrar no barco e outros nunca sairão de mim como eu nunca sairei deles.
É isto que é fazer 40 anos… Conseguir rir das piadas de solteironas ou das músicas do Roberto Carlos, e dizer em voz alta, eu estou aqui e amo o que sou. Eu estou aqui inteira e feliz para o tempo que vier, sejam horas ou anos. Daqui até aos sessenta são mais vinte que se adivinham poderem ser ainda mais rápidos do que aqueles que me trouxeram até aqui… A sorte é que para os vivermos vamos ficando menos ágeis… menos rápidos na corrida e mais tranquilos de coração. O desacelerar é uma das grandes obras da criação…
Aos amores e desamores, a quem ralhei e a quem abracei, com quem ri e com chorei, a quem desiludi e a quem surpreendi, com quem caminhei, caí ou voei… Com todos celebro a vida e agradeço o tanto bem recebido, agradeço o que aprendo e o tanto que ainda está para aprender.
Nesta maré viva em que o presente é o mais eterno dos momentos, só faz sentido dizer obrigada e sorrir. Amo-vos, amo-me e quero que cresça em nós esta lamechice de nos sentirmos perto, vivos e livres todos os dias. Obrigada pelo mar que são em mim. Estamos todos de parabéns. Obrigada. 




Sem comentários:

Enviar um comentário

Conversas que tenho comigo

Há uns dias ouvi falar sobre públicos de cinema num sítio onde não há uma sala com programação regular ou onde os filmes não se apresentam ...