domingo, 12 de maio de 2019

Big Bang...

Esta semana assisti a apresentação de um trabalho de uma amiga, que para lá disso é uma grande bailarina. A Valentina inventou um novo big bang. Alerto já que não é esta a história nem são estes os passos experimentais e teóricos que suportam dois anos de trabalho e de investigação em torno da forma e do modo, de "Altrove",  mas é esse trabalho que me leva a construir uma narrativa só minha. Assim, posso afirmar, que esta quinta feira vi uma novíssima e surpreendente interpretação da criação do mundo.
Um mundo que nasce de um plano bidimensional, de um desenho... Um mundo que é na sua origem um planisfério onde as cores e as texturas se tocam lado a lado. Pela intervenção da vida, no caso, da Mulher ou da humanidade (porque humanidade também se pode escrever com M grande), a criação transforma-se, envolve-se, mistura-se, confunde-se, toca-se sempre, amarrota-se, espreme-se, aperta-se, centrifuga na busca de uma forma, de um centro. Encontra esse centro numa configuração redonda que pode ser um globo, um vulcão... E este caminho de convergência, que é feito sem roupa e com roupa, tem nas roupas uma metáfora lindíssima. A música tece paisagens que me lembram o quão difícil e fácil é este encontro, este toque, este movimento, não que não nos seja natural, antes pelo contrário. Como num parto, a força, a respiração, a dor e algum tipo de violência faz nascer a criação, a criatura, a vida ou apenas uma nova forma de ser, extensível a quem pare e a quem é parido.
Nos movimentos de encontro como nos movimentos de criação ninguém fica indiferente e ninguém fica igual, talvez possa ser esta a minha ingénua definição de arte.
Voltando linóleo branco, pretexto disto tudo, penso na forma como crescemos e como construímos ou vemos a realidade, como imitamos modelos, como nos tornamos modelos, como nos relacionamos com formas inanimadas e como é clara e nem sempre consciente, a luta entre ser e não ser vida, ser e não ser carne, ser e não ser.
Obrigada Valentina por estes anos de trabalho e por este processo que continua em curso e que acredito continuará a possibilitar muitas leituras e magnificas relações como as que experimentámos naquela sala, naquela reverberação de som e naquela luz.
Brindemos com vinho feito em talhas de barro, comamos pão, azeitonas, frutas e bolinhas dos Açores, afinal o mundo é mesmo redondo e nós continuamos a alimentar-nos da terra e da generosidade uns dos outros. 


"Altrove" | Estudo para corpos dispersos 
Valentina Parravicini | dança
Marcos Aganju Oju | sonoplastia
Sofia Ó | colaboração
Cristina Vilhena | produção
No 
c.e.m - centro em movimento dia 10 de maio de 2019


Conversas que tenho comigo

Há uns dias ouvi falar sobre públicos de cinema num sítio onde não há uma sala com programação regular ou onde os filmes não se apresentam ...