quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Táxi...

20h00 - Quero apanhar um táxi, ao meu sinal param todos e nenhum vai para onde quero ir.
Passados quinze minutos (e quinze minutos à beira de uma estrada é uma eternidade), "nó bai" entro para o banco da frente de um táxi vazio.
-Sabe, ninguém quer ir para a Praça a esta hora, por causa do engarrafamento. Muito movimento… muito tempo. Vê? Aponta para os carros parados lá ao fundo enquanto procura passageiros que queiram entrar nesta espera onde agora estamos juntos. Todos se podem juntar à espera, e contudo ninguém entra.
A maior parte das pessoas que nos fazem parar querem ir para Antula.
- Para Antula ainda é pior, uma hora de tempo ou mais. A esta hora ninguém quer ir para lá. Fica o tempo todo no trânsito. “Antula ká bai” ouvem resignados os candidatos a transporte, com cara de quem já espera há mais tempo do que eu.
As ruas estão cheias de gente, o taxista aponta para os magotes de pessoas que esperam o toca-toca… E lá vai dizendo que não há dinheiro e que as pessoas não podem andar de táxi, muitas vão a pé porque não têm dinheiro e que há poucos transportes… Sendo que eu me vejo metida no caótico trânsito da Chapa em hora de ponta e não me parece nada pouco.
Volta a insistir que não há dinheiro e há minha volta, mesmo aqui à beira da estrada e à vista de todos o mercado da "fuca" está cheio de gente a pegar e largar, lanternas a apontar os artigos, pregões a chamar os fregueses. Então explique-me por favor o que está esta gente toda na rua a fazer?
- Hummmm… vem comprar sapatos. Mil francos, dois mil francos. Mas não há dinheiro.
- Pelos vistos não há dinheiro em lado nenhum, (digo para o ar, sem esperar resposta).
O taxista boceja violentamente, esfrega a cara, mexe-se no lugar e eu pergunto:
-A que hora começou a trabalhar?
-As cinco da manhã. Estou no táxi desde as cinco da manhã e ainda não comi nada. Apenas aquela fruta pequena, mancarra e assim… Está difícil.
Eu fico com os meus botões a pensar na falta de táxis num país com trânsito caótico, na compra massiva de sapatos num país onde a maioria anda de chinelos, na falta de comida de quem trabalha de sol a sol, e a justificação do taxista não se arruma imediatamente na minha cabeça, claro que não vou questionar, vou dizer que sim com a cabeça e sorrir, afinal os taxistas não têm de ser especialistas em todas as matérias e esta parece-me complexa.
- O troco é "pa bo", digo eu no meu melhor crioulo (que é uma nódoa), ao sair do carro…

Sigo caminho pesando que talvez gaste neste simples jantar de "estrangeiro", para onde me dirijo, o que ele, alimentado por mancarra, levará duas semanas a juntar… E isto também não se arruma imediatamente na minha cabeça, e nem digo que sim, nem me sorrio. Esta é mesmo uma realidade muito complexa e o problema não estão nos chocos grelhados com salada que me esperam, mas sim no tão pouco que alguns ganham nestes mundos de diferenças abissais entre as pessoas. 
Os problemas complexos de que fala Rui Marques, em conversas que inspiram a caminhos colaborativos, sem a presunção de os resolver imediatamente. Treina-se a humildade e clareza de os desenhar para que por cima deles se invente um novo mapa ajustado e tranquilo, que nos fará chegar juntos e por estradas movimentadas, a novos e justos horizontes. "Nó bai".



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