quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Os animais em cativeiro e a diversão humana

A propósito de um post sobre orcas em cativeiro gostava de partilhar um ponto de vista.
Há uns tempos vi uma entrevista com um dos maiores donos de circo em Portugal que foi domador de leões. Não vi nele um mau homem, não vi nele perversidade nem maldade para com os seus animais, mesmo quando a sua vida corria perigo em frente às feras selvagens.Há uns tempos tive uma conversa longa com aficionados da tourada e com forcados e não vi neles falta de respeito para com os animais, nem me pareceram jogadores de wrestling ou de box em busca de validação da sua virilidade.
O Museu do Circo em Sarasota (Flórida) que tem uma magistral maquete de um circo antigo e muito do espólio do Circo Ringling é uma delícia de visitar  e imaginar outros tempos em que o conhecimento era feito por "contacto". Os circos na sua itinerância mostravam, ensinavam e divertiam. Da mesma forma que deixaram de mostrar aberrações humanas também podem deixar de mostrar animais selvagens.
Não conheço o senhor, mas o que passa da história do argentino que fundou o zoomarine no Algarve é coerente, ele faz o que sempre soube fazer. 
Onde quero colocar o foco não é nos jardins zoológicos, nos parques de diversões com animais em semicativeiro, nos tanques, nos circos, nas praças de touros, não gostava de colocar o foco no domador de leões, no amestrador de orcas, ou no forcado que se testam todos os dias de "espetáculo". Onde quero colocar o foco é no público que mantém esta situação e até a potencía, vibra e grita na busca de aberrações que alimentem a sua imaginação e quem sabe sua inconsciente perversidade. 
Acredito que tudo, quando deixar de ser um "negócio de milhões"  acaba. Por estranho que pareça (e não os coloco no lugar de vítimas nem lá perto) ponto de vista de onde vos escrevo, o que vejo de mais vulnerável é o lugar do domador, do treinador de orcas ou do forcado, gente que aprendeu e acredita que o seu lugar na história está certo, que quer fazer bem o seu "trabalho". Estes vão ficar "desempregados" porque muita gente em muitos anos comprou bilhetes e os fez acreditar e desenvolver uma profissão de forma digna que lhes alimentou os filhos e os brilhos da roupa. 

A sociedade muda em grupo, em conjunto. Quando deixar de haver público e curiosidade pelo exótico a coisa muda. Hoje os programas de televisão sobre vida selvagem, a informação, os livros, a internet democratizam acessos e conteúdos.
Por exemplo, hoje as viagens para observação de baleias superam o volume de negócio da captura e transformação de cetáceos nos Açores e atraem mais pessoas e pessoas diferentes. Por isso, mais do que um post que expõe o nome de um homem (e que eu republiquei), que o condena pela morte de três orcas talvez não seja muito justo. É possível que este homem tenha sentido profunda dor pela perda, tal como de uma pessoa amada (quem nunca chorou a morte de um animal de estimação que atire a primeira pedra). 
Somos nós, público que temos de mudar, temos de deixar de ver espetáculos que atentam contra os direitos humanos, os direitos dos animais e a exploração da natureza e a mim parece-me que não estão só nos circos ou nos aquários gigantes. Se os espetáculos com aberrações humanas terminaram, se a mulher de barba ou os jovens de duas cabeças já não ganham dinheiro em barraquinhas de pano com franjas significa que estamos a fazer caminho e que o que aí vem será melhor. Mesmo com a convicção de que somos especialistas em encontrar e explorar aberrações novas e injustas a cada tempo.
Estejamos atentos e aprendamos juntos.  

25 de abril! Sempre!

Uma amiga que vai descer a avenida da Liberdade daqui a pouco e não é de missas, convidou-me para uma missa. Encontrando um padre amigo numa...