quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Padrões..


Bissau, 18 de Janeiro de 2016

Em quatro meses na Guiné-Bissau, procuro padrões, procuro repetições que me ajudem a encontrar reconhecer a cada dia, um espaço mais familiar e mais próximo de mim própria. Quatro meses de um país completamente novo ainda não me permite identificar com clareza um padrão.
Encontrei algumas coisas, coisas se repetem nas minhas caminhadas para o trabalho, para o mercado, no regresso da missa, nas idas ao Bandim… 
Não há dia em que não ande a pé, não há dia em que não veja um homem a urinar na rua, não há dia em que não veja uma borboleta, não há dia em que não sinta o cheiro de algo que queima longe ou perto, não há dia que não ouça o som da vassoura a varrer o chão de terra... Vassourinhas pequenas feitas de junco que exigem as costas dobradas para chegar ao chão. 
Os sentidos estão abertos… E tudo tem uma dimensão diferente daquela que teria na minha cidade. As borboletas que sempre entendi como indicadores de boa qualidade do ar, voam abundantemente nesta capital, onde muitos táxis e toca-tocas, azuis e brancos ou azuis e amarelos, libertam estrondosas quantidades irrespiráveis de dióxido de carbono. As fogueiras ajudam a controlar os lixos e são uma forma de incineração “caseira” que controla a sujidade nas ruas e dá um tom fumado à paisagem. A terra varrida faz-me lembrar a minha infância e as brincadeiras que tinha na escola quando fazia casinhas com muros de folhas de oliveira, quando brincar aos pais e às mães fazia parte do meu padrão diário de aprender a ver o mundo e a ser gente.

Bissau continua a ser a cidade onde procuro rotinas, para continuar a crescer e aprender a ser mais pessoa, mais inteira, com gente nova todos os dias, num ano novo que desejo com belos e coloridos padrões para todos os sentidos. 



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