sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Vento...

É por causa da impossibilidade da visualização do invisível que não escrevo.
Como posso descrever o vento que antecede uma chuva tropical?
Não se vê um vento fresco que entra em todo o lado excitado, espaçoso e aleatório que tem volume e densidade e ao mesmo tempo me deixa leve e fresca quando me toca. 
Como se descreve um vento ágil e limpo que excita os sentidos na surpresa do que há-de vir?
Um vento que agita as palmeiras como fortes e frágeis bailarinas de dança contemporânea, arranca as folhas às papaieiras e ainda assim é redondo e maternal?
E como se falam de relâmpagos luminosos, faíscas sem fim, verdadeiros recordes por minuto, impossíveis de contar, que não são acompanhados por trovões audíveis? Surpreendentes espectáculos de luz e silêncio que me fazem entrar na dimensão da surdez a um ritmo de dança.
E como se falam de trovões que não trazem consigo relâmpagos e assim sozinhos parecem rasgar tudo, fazendo-me sentir pequena, cega e ofegante tal a força do seu grito?
E como falar da chuva? Da chuva que molha, lava, e seca num pestanejar de mulher bonita.
Chove como se mais não pudesse acontecer noutro dia, e também chove com doçura, abundância e serenidade como se todo um céu estivesse uniformizado num chuveiro imenso completamente calibrado e regular.
Ficam sulcos profundos na terra feitos pelas corridas das águas. Rugas de expressão de uma terra corada, que imagino feliz por se ver habitada. Ficam mais verdes os verdes, mais vermelhos os vermelhos, tudo fica alguma coisa mais... Garantidamente mais molhado, apenas no imediato.
Os cheiros e a temperatura são invisíveis e tão concretos que não há adjectivos, só sentidos.
E quando a chuva vem ao final do dia o céu ganha um fundo cinza iluminado por uma luz quente... E fica mais perto da terra. Sim, é isso que não consigo descrever de outra maneira... Há dias aqui em que o céu fica mais perto da terra.
Ontem foi um destes dias.

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