segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

6x7...


Hoje faço anos! Simbolicamente 
inicia também um novo ciclo (ai como eu gosto disto heheh). Parabéns a mim e a todos os que celebram comigo, que sejam de festa todos os dias.

O primeiro texto deste ano conta um episódio que vivi durante o ano que passou. É uma espécie de metáfora que resume a aprendizagem e a confiança que a vida me proporcionou nos últimos anos ou a disponibilidade que fui treinando, (ou acolhendo), para parar, entrar em relação, mudar os meus planos e seguir fazendo grandes amigos e juntos chegarmos aos sítios que desejamos, que nos fazem mais felizes... Para juntos chegarmos mais rapidamente a casa. 
Conheci o João num dia de Outono em pleno centro de Leiria, num dia antes de uma viagem de regresso a Bissau! O João estava parado no meio de uma passadeira com o sinal vermelho para peões e carros à distância de braços. Eu quase corria no passeio perpendicular à passadeira mas chamou-me a atenção aquela cena, travei, voltei para trás e perguntei se precisava de alguma coisa. Estava desorientado. Procurava uma direcção. 
Já no passeio conversámos um pouco, disse-me para onde queria ir e não consegui dizer simplesmente que era em frente, atravessando quatro estradas, nem todas no mesmo sentido, e percebi na pele o quanto é difícil explicar o caminho a um cego. Disse que o levava lá, e com isto aprendi a guiar um invisual. Percebendo que estava com presa, explicou-me que não chegaríamos lá, com rapidez, com o meu braço na posição onde segurava o dele, seria ele a segurar o meu. Tinha confiança quando falava do que dominava. Ri-me com ele dizendo: “quem não sabe é como quem não vê"! Naquela disciplina claramente a cega era eu. Na verdade era ele que queria ser guiado e não eu que o guiava, o caminho era do dele, o destino era o dele, a vontade era a dele... Guiar ou deixar-se ser guiado, um surpreendente jogo de diferenças.
Guiar um cego é como uma dança e o João sabe dançar bem. Anda no IPL mas não é de Leiria, está a fazer um trabalho sobre acessibilidades nos transportes públicos e tinha ido a uma reunião por causa disso. Deixei o João junto da vizinha com quem ia apanhar boleia para casa e o último gesto que lhe vi foi o de apertar o relógio e o levar ao ouvido para ouvir as horas. Tinha chegado a tempo.
Continuei correndo muito feliz por conseguir parar frente ao desconhecido sempre que é preciso. E aprendo tanto quando paro ou quando me deixo guiar pela vida e mudo o rumo para chegar mais perto de casa.
Obrigada de coração, querido João, fizeste-me ver coisas que nunca tinha visto.

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