segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Partidas...

Aqueles que partem, vão sempre em vantagem. Quem fica e tem de organizar o ordinário dos dias de forma diferente do até então, sente muito mais a falta do que aquele que pela natureza da partida, da mudança ou do movimento terá de prestar atenção a novos estímulos e criar naturalmente novas rotinas nas novas circunstâncias. Criar novas rotinas nas velhas circunstâncias é o verdadeiro desafio.

Quando se vive uma realidade de grande mobilidade de pessoas essa é a grande prova de resistência. Há quem se escude no "não quero mais amigos" para evitar o sofrimento da separação ou do vazio. Há quem deixe de ter paciência para investir nos "novos" outros que chegam, não por medo da separação para pelo cansaço que é voltar a apresentar-se ao outro, ou descobri-lo, ambos os movimentos exigem energia, confiança e esperança.

Volto ao princípio, quem parte vai sempre em vantagem porque vai construir, vai à descoberta. Quem fica, terá de recriar o vazio a partir de si. Se se vai embora o nosso companheiro das caminhadas que sentido daremos aos novos passos? Se se vai embora a nossa companhia nos cozinhados que sabor daremos aos novos pratos? 

É possível que já tenhamos caminhado ou cozinhado sozinhos, talvez voltemos a rotinas antigas, mas talvez tenhamos descoberto juntos coisas bonitas que agora teremos de reinventar. Enquanto quem parte constrói novas rotinas no desconhecido, quem fica terá de as construir a partir do conhecido, do experimentado, do gostado. Por isso nos faz tanta falta aquele que habitou connosco um determinado espaço/tempo que nunca se repetirá. 

Se a vida não nos faltar, vamos mantendo o contacto, pelas redes sociais, que nasceram exatamente para colmatar esta necessidade de continuidade e comunicação que temos ou desejamos. Vamos encontrar-nos passados uns meses/anos e no encontro ficará a ideia que ainda "foi ontem" que nos separamos. A memória passará a ser alimentada pelo extraordinário do momento em vez da rotina dos dias. 

Aqueles com quem nos cruzamos na vida e não desejamos voltar a ver não entram nesta equação. São circunstanciais estas pessoas e não nos fazem falta, apenas habitam os dias como o merceeiro ou padeiro que não conhecemos o nome ou o rosto e podemos substituir por outro prestador de serviços sem que isso nos afete a digestão. 

Não há amor/relação sem futuro... Mas a sua definição talvez seja mais o viver sem medo este abraço inteiro ao presente, na certeza que o futuro não existe fora do nosso coração. Afinal o coração é o único sítio onde os que amamos estão sempre em vantagem e de onde nunca (se) partem. 

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