terça-feira, 24 de maio de 2022

Diz-me tu, de onde sou?

Muitas vezes me perguntam de onde sou. Não se responde a uma pergunta com outra pergunta, mas tantas vezes me apetece devolver com: Diz-me tu, de onde sou.

Não perguntamos "de quem somos" porque seria vermo-nos como posse de um outro, seria equiparar-nos a objecto possuído. Porque é que temos de ser posse de algum território?

Claro que temos gente em nós, como temos chão em nós. Temos um chão que nos viu nascer e talvez não sejamos de lá porque as "nossas gentes" apenas o pisavam por acaso. Temos gente que nos viu nascer e talvez não sejamos delas porque encontramos outros com quem pisámos mais chão ou descobrimos mais caminhos.

Secretamente quero ser do bem, do bom e do belo... O resto, se tem coordenadas geográficas, laços de sangue ou heranças, é só acessório deste território social composto por tempo, espaço,  tradições, língua, ofertas de consumo, fruições de diferentes tipos, tradições no mesmo número, educação, poder de compra, etc.

Uma certeza eu tenho, não sou de um ponto, sou de uma circunferência que alarga todos os dias como quem se espreguiça, num desejo constante de amplitude e elasticidade. O céu une isto tudo. Da próxima vez que me perguntarem, talvez responda: sou do céu... E aí volto a ter problemas porque o céu não é um lugar de vivos. Mas conseguiríamos viver sem céu? Não me parece. 


1 comentário:

  1. imagina que num futuro só tenhamos que responder: sou da terra? será que viria disso algum tipo de observação também?, do género, ah, terra, o meu avó era da terra, coitado, migrou sozinho para marte sem ajuda.

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