terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Pistolas...

O caminho para o trabalho é feito de olhares e silêncios de sorrisos e de vazios... E de perplexidades. Há sempre muitas crianças na rua. Estou num nos países com uma das maiores taxas de natalidade do mundo e há sempre muitas crianças em todo o lado. Há dias cruzei-me com um menino que teria entre os oito ou os dez anos e na mão direita tinha uma pistola. Algo parecido com uma 9mm mas mais pequena e assim talvez tivesse menos milímetros... Uma pistola de plástico. Talvez uma pistola de fulminantes. No seu lado esquerdo acompanhava-o o amigo que segurava um saco de plástico por cima do ombro esquerdo. Iam descontraídos e como sempre eu seguia apressada... Talvez a pistola funcionasse com pequeninas pedras porque o vi parar para apanhar algumas do chão.
Eu tentei abrandar o passo mas ia embalada no meu ritmo de quem corre sempre para algum lado... Queria continuar atrás deles mais algum tempo, contudo era-me impossível parar com tempo, conhecem aquela sensação de parar um camião em andamento? Eu era o camião.
E na minha ultrapassagem pela direita ainda vi o miúdo a sacar da pistola, estender o braço levantá-lo à altura do ombro e fingir que atingia com um tiro, que lhe saia da boca, um outro miúdo que estava no lado oposto da estrada e que se dirigia a ele com alegria. 
Fiquei com um nó na garganta... Ou no cérebro. Lembro-me de ouvir o filho de uns amigos meus, pacifistas e sempre cuidadores da educação dos pequenos, dizer aos vinte anos que uma das coisas que mais o marcou na infância foi não poder brincar com pistolas com os amigos, porque o pai o proibia... e dizia isto com mágoa.
E lembrei-me dos índios e dos cowboys, dos piratas, das corridas e das apanhadas... 
E já de costas para os miúdos pensei que aquilo daria uma imagem fantástica, daqueles que ganham prémios no World Press Photo, que chocam e desinstalam o nosso lado burguês que apenas vê o mundo de um ponto de vista. Do ponto de vista certo, limpo, lindo, arrumado e feliz. 
Sei que também eu tirarei todas as armas aos "filhos" que me forem aparecendo na vida, e ainda assim o que desejo é não ser eu a apontar "armas" a quem brinca com elas, nem me "armar aos cucos" em assuntos que vão para lá do óbvio. 



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