Eu tentei abrandar o passo mas ia embalada no meu ritmo de quem corre sempre para algum lado... Queria continuar atrás deles mais algum tempo, contudo era-me impossível parar com tempo, conhecem aquela sensação de parar um camião em andamento? Eu era o camião.
E na minha ultrapassagem pela direita ainda vi o miúdo a sacar da pistola, estender o braço levantá-lo à altura do ombro e fingir que atingia com um tiro, que lhe saia da boca, um outro miúdo que estava no lado oposto da estrada e que se dirigia a ele com alegria.
Fiquei com um nó na garganta... Ou no cérebro. Lembro-me de ouvir o filho de uns amigos meus, pacifistas e sempre cuidadores da educação dos pequenos, dizer aos vinte anos que uma das coisas que mais o marcou na infância foi não poder brincar com pistolas com os amigos, porque o pai o proibia... e dizia isto com mágoa.
E lembrei-me dos índios e dos cowboys, dos piratas, das corridas e das apanhadas...
E já de costas para os miúdos pensei que aquilo daria uma imagem fantástica, daqueles que ganham prémios no World Press Photo, que chocam e desinstalam o nosso lado burguês que apenas vê o mundo de um ponto de vista. Do ponto de vista certo, limpo, lindo, arrumado e feliz.
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