segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Arte de guerrilha que me faz sair do casulo.

Dei dois mil quinhentos e oitenta e nove passos até me sentar num café com nome inglês e pedir um “croissant” com queijo e um abatanado cheio. É o reforço alimentar a meio do caminho de casa que juntará mais cerca três mil passos, ao total necessário para deixar o carro num lugar não pago, o mais perto do centro de Lisboa. Neste caminho passei por várias mensagens que advogavam o fim do capitalismo em tamanhos e técnicas diferentes e é com esta comunicação de arrabaldes e periferias que questiono as minhas incoerências. Amo a guerrilha de rua, aquela que desperta as contradições e estimula o pensamento com poesia e mestria artística. 

Olho-me... Visto um casaco sueco, uma camisola de lã de uma marca espanhola, umas calças de marca italiana, umas sapatilhas norte-americanas. O relógio é japonês, um anel é de oliveira alentejana esculpido por um alentejano e o outro anel é da casca um fruto impronunciável da Amazónia, comprei no Brasil e não sei nada de quem o fez. Tenho num bolso um telefone chinês e noutro uma carteira de grife contrafeita na Turquia comprada a um vendedor sem licença em frente à Ponte Gálata a caminho do Bazar Egípcio. Numa mão um saco de pano confeccionado numa cooperativa de mulheres na Guiné-Bissau e nas costas uma mochila de marca francesa. Não vou esmiuçar a roupa interior para manter o mistério, afinal não temos todos de saber tudo, mas posso dizer que as meias não foram feitas pela minha avó.  

A marca da mochila começa por D, mas tal como tudo o resto, é tudo média-costura, que um verdadeiro Dior não precisa de evitar parquímetros. 
Caminho sem saber onde este capitalismo nos vai levar, a mim hoje levar-me-á a casa depois de pagar a conta com cartão. 

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Dei dois mil quinhentos e oitenta e nove passos até me sentar num café com nome inglês e pedir um “croissant” com queijo e um abatanado chei...