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Hoje inventei uma "escola de ouvido". Uma escola em que os alunos sentados da forma como entenderem aprendem de olhos fechados o som dos passáros que anunciam o amanhecer, aprendem a distinguir um rouxinal de uma rola, aprendem de ouvido a cor das aves e o movimento dos animais selvagens.
Aprendem a distinguir um didjirudú de uma flauta, um cravo de um piano e com isto aprendem o tempo de demorou a chegar de um ponto a outro.
Aprender os ritmos do djambé em contraponto com os timbalos e descobrem que se podem afinar instrumentos de percussão com sol ou com chaves de metal.
Aprendem que nem sempre existiu saxofone e com ele descobrem caves escuras onde se fazia música.
Aprendem de ouvido a distinguir Viena de São Francisco, os aborisnes australianos dos indios da amazónia. Pelo som descobrem tempos e espaços, rituais e vulcões. Sobem às montanhas dos Andes ou descem ao Mar Morto ao mesmo ritmo do ar rarefeito ou da densidade do sal.
Distinguem a lingua dos clics, o mandarim ou o russo, com a mesma facilidade que distinguem um tecido de algodão, seda ou lã. Ouvem falar de epopeis e nelas encontram Cavalos de Pau cujo interior, em silêncio, permitiu ganhar a guerra.
Aprendem a distinguir poesia de prosa pelo ritmo das palavras e vão saber que nem tudo o que rima é poético e que também há narrativas escritas em verso.
Aprendem de ouvido o som dos passos com chinelos, salto alto, ou o simples ranger dos pés na areia molhada.
Não pensem os mais distraídos que não há testes nesta escola, porque os há. Os estudantes distinguem-se uns dos outros pelos sons e cada um deles partilha o som que mais gosta naquele momento e os outros adivinham de onde vem, e assim distinguem música barroca de música electrónica, jazz de blues, Bowie de Bjork.
Vai ser giro quando um deles decobrir um som novo que não está catalogado na memória e aí serão eles em conjunto a fazerem a história. Desses sons havemos de ouvir falar no futuro e espantar-nos-emos com a capacidade que os alunos têm de criar em conjunto, só porque aprenderam a ouvir.
Uns tornar-se-ão observadores de pássaros, uns músicos, outros afinadores de pianos, uns serão locutores de rádio, outros professores, uns serão pais de familia e outros serão viajantes solitários, não consigo imaginar o quanto farão tantos deles, sei apenas que a grande maioria será muito feliz.
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