Até ao último dia de maio a chuva não tinha chovido. Mostrava-se sem se chover. Muitos de nós somos assim, não vamos criticar a chuva por isso.
Esta noite choveu. Choveu a sério. Hora e meia de chuva que chove. Chuva que se deixa cair. A primeira grande chuva noturna da estação. Virão outras maiores, muito maiores, mas a primeira marca-nos, ou molha-nos, conforme o lugar onde nos colocarmos.
Ainda não nos habituamos uma à outra, mesmo se nos desejamos, bom, eu desejo-a, ela talvez nem me conheça... É sempre assim com os amores platónicos.
Começou às 5 da manhã e lavou a noite antes de ela ir dormir. Lavou o dia antes de ele acordar.
Arrefeceu os corpos que dormiam e os que acordaram para a cumprimentar. Eu acordei.
Fiquei a ouvir chover. A ouvir os trovões envoltos em veludo num som que se arrasta como quem espreguiça.
Não consegui dormir perante a chuva e a sua força doce de quem procura caminho para crescer. Mesmo se mimada pelo vento que me tocava ao de leve a pele destapada não consegui adormecer até que a força da chuva não se dissipou.
A manhã acordou fresca, a rua molhada canta feliz quando os carros passam.
Há uma leveza no ar que quero sorver porque sei que em breve a humidade vai tornar o ar irrespirável e ensinar à pele o que é chover.
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