Bissau, 18 de Janeiro de 2016
Em quatro meses na Guiné-Bissau, procuro padrões, procuro
repetições que me ajudem a encontrar reconhecer a cada dia, um espaço mais
familiar e mais próximo de mim própria. Quatro meses de um país completamente
novo ainda não me permite identificar com clareza um padrão.
Encontrei algumas coisas, coisas se repetem nas minhas
caminhadas para o trabalho, para o mercado, no regresso da missa, nas idas ao
Bandim…
Não há dia em que não ande a pé, não há dia em que não veja um
homem a urinar na rua, não há dia em que não veja uma borboleta, não há dia em
que não sinta o cheiro de algo que queima longe ou perto, não há dia que não
ouça o som da vassoura a varrer o chão de terra... Vassourinhas pequenas feitas
de junco que exigem as costas dobradas para chegar ao chão.
Os sentidos estão abertos… E tudo tem uma dimensão diferente
daquela que teria na minha cidade. As borboletas que sempre entendi como
indicadores de boa qualidade do ar, voam abundantemente nesta capital, onde
muitos táxis e toca-tocas, azuis e brancos ou azuis e amarelos, libertam
estrondosas quantidades irrespiráveis de dióxido de carbono. As fogueiras
ajudam a controlar os lixos e são uma forma de incineração “caseira” que controla
a sujidade nas ruas e dá um tom fumado à paisagem. A terra varrida faz-me
lembrar a minha infância e as brincadeiras que tinha na escola quando fazia
casinhas com muros de folhas de oliveira, quando brincar aos pais e às mães
fazia parte do meu padrão diário de aprender a ver o mundo e a ser gente.
Bissau continua a ser a cidade onde procuro rotinas, para
continuar a crescer e aprender a ser mais pessoa, mais inteira, com gente nova
todos os dias, num ano novo que desejo com belos e coloridos padrões para todos
os sentidos.
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