Há uns dias ouvi falar sobre públicos de cinema num sítio onde não há uma sala com programação regular ou onde os filmes não se apresentam mais do que uma vez e fiquei a pensar se muitas das pessoas desta ilha teriam experimentado escolher um filme entre cinco ou seis que começam à mesma hora ou teriam o hábito pegar no jornal e decidir entre duas ou três salas.
A verdade é que uma parte substancial da população não tem.
As conversas são como as cerejas e logo a seguir vem a guerra do retorno económico e do streaming, a grande aposta do negócio de um "novo média"... Fui-me perdendo nos meus pensamentos desejando saber quanto é que a Netflix cresceu na Madeira e em concreto em Rabo de Peixe depois da gravação da série feita por padrão para a indústria criticada por Moretti.
Alguém tem ou sabe onde se podem procurar estes dados?
Netflix, filmIN ou HBO democratizam os acessos e são importantes para a indústria, mas ainda assim não são garante de uma maior justiça. Não têm de ser.
Num caso de estudo relativamente próximo e sem amostra de controle, o meu, constato que a RTPplay e a TVEplay fazem muito mais pela distribuição de conteúdos que qualquer uma das plataformas pagas que não tenho.
Ainda assim é tudo uma questão de acessos... Ter eletricidade, telemóvel, computador ou televisão inteligente, mas também ter tempo, ter espaço seguro e tranquilo para assistir, ferramentas para escolher, pretexto social para falar sobre isso.
As bibliotecas estão para os livros como as "cinematecas" estarão para os filmes?
O que fizeram os videoclubes, ao cinema?
Em breve ninguém terá onde ler um DVD, e não sei se a geração que está a nascer agora terá hipótese de fazer a experiência similar de duplicar cassetes de VHS, ver séries inteiras em plataformas piratas, ou filmes passados em disco rígido entre amigos.
Não sei mesmo qual vai ser a experiência dos miúdos de hoje em dia, mas eu gostava de continuar a ver cinema em sala e a levar os meus sobrinhos comigo nessa experiência. Agora que penso acho que também vou ficar contente se eles se lembrarem de me levar quando eu for velhinha.
Paralelamente quero continuar a poder ver filmes em casa, e vejo como grande vantagem isso de podermos assistir ao espanto ou ao enfado de pijama. Hoje um projector é a minha opção à televisão, sim, os meus sobrinhos também sabem que a tia não tem nem televisão, nem microondas e que houve alturas em que não tinha luz, não por opção mas porque a eletricidade (tal como o cinema) também não é um bem universal.
A maior parte dos filmes que vi, vi sozinha. Comparativamente ao desporto, as vezes que fui mais assídua e constante foi em tempos que tinha companhia para treinar.
É engraçado perceber o que nos motiva... Eu diria que para a maior parte das pessoas o cinema é uma experiência social, no meu caso não vejo assim.
Nunca fiz parte de um grupo de leitura, nem de discussão de filmes e para ser franca raramente gosto de ir ao cinema acompanhada porque no final do filme gosto de ver os créditos até ao fim e fico sempre com a sensação de que alguém me espera, logo, que estou a chegar atrasada a um encontro em que o que aconteceu de facto foi o outro que chegou cedo demais, porque saiu antes do filme antes do tempo. Claro que esse que saiu pergunta com razão:
- Aprende-se alguma coisa com os créditos? Lês tudo?