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As Três Graças, Peter Paul Rubens 1636-1638, óleo sobre tela, 221 x 181 cm Museu do Prado, Madrid, Espanha |
Podemos medir o tempo de tantas formas, gosto quando o medimos em primaveras pelos aniversários. Nas margens do Geba há quem tenha o tempo de uma árvore, fazendo ecoar a confidência: sou tão velho como aquele pé de mango. Emociona-me esta poesia que mostra que há vidas que dão abrigo a pássaros e morcegos, dão frutos que alimentam os da casa, mas também os desconhecidos que se aproximam na estação certa.
Há medidas menos bucólicas como o crescimento das unhas de gel ou da raiz de brilhantes melenas alvas em cabelos pintados de cor garrida. O crescimento dos cabelos e das unhas depende de cada um, fazendo prova desta entidade subjetiva e orgânica que tentamos todos os dias cronometrar.
Também meço a tempo pelo tamanho das crianças, por exemplo a minha primeira separação tem a robustez, a força e a esperança do meu sobrinho mais velho, a minha segunda separação tem a leveza, a perspicácia e a irreverência da minha sobrinha mais nova.
Também medimos o tempo em pesos acumulados e armações de óculos.
Nos dias em que me sinto dez quilos mais velha, olho para as figuras de Tintoretto ou de Rubens e desejo viver nas suas salas no Prado e não ser mais exposta a desfiles de moda ou anúncios de revistas, afinal para o tempo também são precisas referências, inventando um ritmo que se adapta e acolhe novas formas.
Medimos o tempo pelos alertas do Facebook ou pelos lembretes do Google... Nos dias em que recebo uma memória "neste dia há quatro anos", olho para a imagem e na maior parte das vezes não reconheço o calendário, tanto pode ser por excesso como defeito. Quando me liga uma amiga com quem não falo há meses e ficamos duas horas em whatsapp que partilha conversas e afazeres, parece que a última vez que falámos foi no dia anterior. E há pessoas com quem tivemos tanto contacto e ainda assim quando se aproximam parecem alienígenas desconhecidos.
Sim, é clichê falar do tempo, mas em que outro texto eu poderia escrever unhas de gel sem falar de caixas de supermercado ou estética de jogadores da bola? Sou eu a tentar ter graça :-)