quarta-feira, 4 de abril de 2018

Coelhos...

Ofereceram-me um coelhinho de chocolate como presente de Páscoa. Gosto muito de presentes e de chocolates. Ainda assim, tirando a Páscoa e o Natal, penso que os chocolates não são presentes, porque são sempre passado... Desaparecem. Enfim eu ainda não comi o coelho, por isso ele continua presente.
Estava a olhar para ele e pensei que daria uma boa fotografia para a sequência de três imagens que uso no Instagram e lá vou eu conversar com o coelho que habita a cozinha e pergunto-lhe: estarás tu, querido coelhinho de chocolate, para os vegetarianos, da mesma forma que os cigarros de chocolate estão para as crianças? Ele não respondeu, sorri a imaginar-lhe a resposta numa voz fininha.
O primeiro cliché é pensar que o que conta é o interior. A forma é um mero artefacto da superficialidade. 
E não será a forma uma maneira de mostrar o interior? É e não é! 
O que seria do coelhinho sem a sua roupinha dourada que lhe define os olhos e o sorriso?
E o mais importante é que assim vestido eu sei que o coelho é de chocolate mesmo sem ver o chocolate.
Quando me dizem para usar decotes (que me favorecem) eu não mudo a forma (as mamas continuam as mesma) e também não mudo o interior... Ou mudo ambas?
Talvez isto venha explicado em algum dos livros que tenho aqui ao lado e seja um bom pretexto para uma boa, profunda e divertida conversa sobre arte e decoração. Sobre percepção e verdade, imaginação e desejo... Sem uma pulsão interior não há arte, e ainda assim a decoração de interiores é uma disciplina forte e importante no nosso contexto. (Um trocadilho de palavras e de sentidos heehhheh) 
Teorizo sem recorrer a fontes, sem ler outros textos que falem sobre isto, nem citar autores famosos, que a arte é um processo predominante individual (mesmo que partilhado), intencional (mesmo que espontâneo), com história (mesmo que único) que leva cada um mais dentro de si (estejamos nós de um lado ou de outro da obra), a decoração é um processo social que nos leva aos outros, um resultado para ser visto em contraponto com um resultado em si que penso ser o projecto artístico.
Dará o mesmo prazer um decote e um chocolate? Enquanto objecto um coelhinho de Páscoa sem o papel colorido que o decora é um objecto amorfo, já uma mulher com a camisola de gola alta pode ser chamada de amorfa? E de decote pode se tão apetitosa como um coelhinho de chocolate revestido a papel dourado?
Mas se o homem e a mulher não são obras de arte para que raio estou a fazer esta comparação? Não estamos a falar da mesma coisa, a menos que estejamos a falar só de mamas e por aí eu nem arrisco opinar, prefiro olhar para as obras do Jeff Koons.
Bom tempo de Páscoa para todos os coelhinhos e decotes desta complexa contemporaneidade da traição das imagens.



"A Traição das Imagens" de René Magritte (1929)







2 comentários:

  1. Será a forma mesmo uma maneira de mostrar o interior!? Não me parece...já o dito popular o afirma: «Quem vê caras, não vê corações»...

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    1. Sim é verdade, "quem vê caras, não vê corações"... Esta conversa toda, vem a propósito de um quadro do Magritte que se chama "A traição das imagens", e serve para pensar nisso mesmo. Obrigada! Vou trocar a foto ;-) Obrigada pela mensagem. Abraço apertado :-*

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